sexta-feira, 23 de setembro de 2011



cantar a leitura na casa de ruínas


abro o corpo à espera do poema. abro os olhos, fio com a lâmina da

voz, deito nos pés o início da escrita.

da casa de ruínas restam folhas, [retalhos do todo], guardadas na

espessura da pedra.

é no corpo que a casa desenha o espaço do poema.

é no corpo que o poema inicia o seu outono:

deixar as folhas caírem.

corpo-folha alargado sobre o chão do tempo.


e o poema, deitado-pedra, ensina a prece do dia.


rezar a leitura, ela tinha dito.
cantar a leitura na casa da claridade

dobrou o corpo sobre a escrivaninha de palavras, aguardou o chamado
do silêncio branco,

esperava, na casa da claridade, o escuro que antecede o início da escrita. escreve, disse o poema aberto sobre a cama. escreve, disse o poema aberto.
e o poema, deitado-corpo, ensina a prece do dia.

rezar a leitura, ela tinha dito.
do corpo aberto
sem casca
apenas uma
lágrima
escorre
da pele fina
mil marcas.