palavras estilhaçadas
escorrem pela folha branca
procuro o verso
o verso
o verso
(o eco da voz, a materialidade da voz, verso-letra)
para fazer da aflição
suor
para fazer do murmúrio
suspiro
um som (que seja)
reverso da dureza
ouço palavras vociferando
de dentro da noite feroz
num ponto difuso entre
hiância e morte
sem referência deixo
o ritmo escorrer
entre o inesperado e o pressentido
a ordem e a desordem
a necessidade e o acaso
sinto medo
o medo
o medo
(o eco da palavra)
e nesse absurdo
abuso da vida
sem me assustar com a estranheza
que se dissipa nessas linhas
ouço a voz da poesia
(Poesia) sem eco.